A agricultura de precisão (AP) nasceu como uma técnica mais conhecida para uso em grandes propriedades rurais, por ter sido difundida pelo emprego de ferramentas sofisticadas no mapeamento e análise de produtividade. Porém, a agricultura de precisão não está relacionada somente ao uso de alta tecnologia, já que os seus fundamentos podem ser empregados no dia a dia em pequenas propriedades para organização e controle das atividades, dos gastos e produtividade em cada área. Com essa preocupação de desmistificar a aplicação da técnica membros da Rede de Agricultura de Precisão II discutem de 12 a 16 de abril, em São Pedro-SP, o planejamento e gerenciamento de todos os processos da produção.
Durante os cinco dias de encontro, vários especialistas no tema discutirão, entre outros assuntos, o conceito, histórico, resultados no Brasil e no mundo da aplicação da agricultura de precisão, uso de ferramentas, o emprego da técnica em culturas anuais, em culturas perenes, inovações da técnica, oportunidades de pesquisa, construção de mapas. Os participantes terão a oportunidade de exercitar na prática os conceitos da técnica, em caminhadas pelas trilhas no alto da colina do Hotel Fazenda Fonte Colina Verde, ao serem treinados para elaboração e análises de mapas, que podem ser produzidos apenas com prancheta e lápis na mão. Para o coordenador da Rede, Ricardo Yassushi Inamasu da Embrapa Instrumentação Agropecuária (São Carlos-SP) a agricultura de precisão nada mais é que uma postura gerencial que pode ser adotada por todos os produtores rurais e pode ser empregada em todas as culturas, de qualquer região. “É mito achar que só o grande produtor pode usar a técnica, quando até com uma simples prancheta se pode fazer uma mapa de produtividade”, afirma o pesquisador.
A agricultura de precisão visa o gerenciamento mais detalhado do sistema de produção agrícola como um todo, não somente das aplicações de insumos ou de mapeamentos diversos, mas de todo os processos envolvidos na produção.
Agricultura de Precisão
A United States Farm Bill define a agricultura de precisão como um sistema de produção agropecuário baseado na integração da informação com a produção, visando aumentar em longo prazo, a eficiência da produção numa área da propriedade ou no todo. Aumentar o lucro, com simultânea minimização dos impactos indesejáveis no meio ambiente e na vida selvagem. Ou seja, é uma tecnologia que utiliza em conjunto sinais de satélite e softwares para interpretação de dados geoprocessados, isto é, recolhe e reuni informações da área cultivada, sempre com a localização precisa.
Os fundamentos modernos da Agricultura de Precisão, segundo a literatura, surgiram em 1929, nos Estados Unidos, mas o ressurgimento e disseminação da técnica, na forma em que é conhecida hoje, ocorreu somente na década de 80, quando microcomputadores, sensores e sistemas de rastreamento terrestres ou via satélite foram disponibilizados e possibilitaram a difusão dos conceitos. A agricultura de precisão tem se destacado principalmente nos Estados Unidos da América, mas muitos relatos têm sido divulgados sobre o desenvolvimento da tecnologia, tanto em pesquisa como na aplicação prática, em países como Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil e Inglaterra.
No Brasil, as primeiras ações de pesquisa na área foram realizadas na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP) em 1997, onde um trabalho pioneiro com a cultura de milho resultou no primeiro mapa de variabilidade de colheita do Brasil, de acordo com o professor Luiz Antonio Balastreire. Houve também crescimento nas iniciativas de pesquisa/extensão em agricultura, com envolvimento de instituições como Esalq-Usp, Unicamp, Embrapa, Fundação ABC, Iapar, UFSM, além de numerosas empresas privadas do setor agrícola e tecnológico e de cooperativas de produtores, bem como de produtores de forma isolada. São, também, cada vez mais numerosos os relatos e a divulgação de iniciativas na área, envolvendo várias culturas em diferentes estados brasileiros.
Rede de Agricultura de Precisão
O Comitê Gestor de Programação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) aprovou projeto orçado em quase R$ 7 milhões, em 2009, para a criação da Rede de Agricultura de Precisão II, que é liderada pelo pesquisador Ricardo Yassushi Inamasu. A Rede conta com 19 unidades da Empresa, além de parceiros de universidades, institutos de pesquisa e empresas, envolvendo 214 pesquisadores.
A proposta da Rede é trabalhar para definir o manejo adequado da variabilidade espacial e temporal de produção de várias culturas; viabilizar o uso de sensores para intervenção no sistema de produção no decurso do ciclo das culturas; estabelecer um sistema de gerenciamento econômico e ambiental para o manejo localizado do conhecimento em agricultura de precisão e ampliar a transferência de tecnologias em agricultura de precisão. De acordo com o líder do projeto, a agricultura atual deve enfrentar o desafio de aumentar a produção em resposta à demanda da crescente população. “Para isso, tecnologias ligadas ao sensoriamento remoto, a sistemas de informações geográficas (SIGs) e ao sistema de posicionamento por satélite (GPS) vêm propiciando o desenvolvimento da agricultura de precisão, que permite o manejo específico das práticas agrícolas, maior eficiência de aplicação de insumos, diminuição dos custos de produção e redução dos impactos sobre o ambiente”. Os recursos aprovados, segundo Inamasu vão contribuir para aumentar o sinergismo entre vários grupos no país e realizar ações transversais em culturas como milho, soja, algodão, sorgo, trigo, arroz, eucalipto, laranja, pêssego, viticultura, pastagem e cana-de-açúcar. São quinze áreas experimentais envolvendo estados do nordeste, centro-oeste, sudeste e sul.
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