O Brasil já é o segundo produtor mundial de soja, respondendo por cerca de 25% do produto em nível global e estima-se que, até o final desta década, já tenha superado a produção dos Estados Unidos, detentores de 70% da produção mundial, há apenas 33 anos. O complexo agroindustrial da soja responde por mais de 13% de tudo o que o Brasil exportará em 2006.
Embora as estimativas que fazemos do futuro, tomando como referência as tendências dos cenários presentes, dificilmente se realizem com a precisão prospectada, suas indicações são sempre úteis para quem deseja aventurar-se numa iniciativa que envolve o agronegócio da soja.
Realizando esse exercício de prospecção sobre o que acontecerá com a soja brasileira, tomando como referência a realidade atual, parece pertinente afirmar o que segue:
O consumo e, consequentemente, a demanda por soja no mundo continuará crescendo na mesma taxa dos últimos 35 anos: aproximadamente cinco milhões de toneladas anuais, pois a população humana continuará aumentando, embora em menor ritmo que o realizado nas últimas décadas;
o poder aquisitivo da população humana vem aumentando em quase todas as nações do Planeta, destacadamente no Continente Asiático (China, Índia, Coréia, Vietnã, Tailândia, Malásia, entre outros), onde se concentra o maior potencial de consumo da oleaginosa;
o constante aumento no consumo de carnes estimulará o consumo de soja, pois seu farelo é a base da alimentação de bovinos confinados, suínos e aves;
a restrição no uso da farinha de carne nas rações para alimentação de bovinos, por causa da doença-da-vaca-louca, aumentará a demanda por farelo de soja, seu substituto mais provável;
usos industriais não tradicionais do grão de soja, como biodiesel, tintas, vernizes e lubrificantes, entre outros, aumentarão a demanda pelo produto;
mais de 70% dos produtos do complexo soja brasileiro são exportados, mas o consumo interno está crescendo e tudo indica que crescerá muito mais, estimulado pela indústria de carnes, principalmente a do frango;
o protecionismo e os subsídios disponibilizados à soja pelos países ricos tenderão a diminuir por pressão dos países que integram a Organização Mundial do Comércio (OMC), aumentando, conseqüentemente, os preços internacionais e estimulando a produção e as exportações brasileiras;
a produção de soja dos principais concorrentes do Brasil (EUA, Argentina e China) tenderá a estabilizar-se por falta de áreas disponíveis para expansão em seus territórios;
a cascata de tributos que incidem sobre a cadeia produtiva da soja brasileira deverá ser reduzida para incrementar a sua competitividade no mercado externo, promovendo a produção e a renda do produtor;
a produção de soja no Brasil tenderá a concentrar-se cada vez mais em grandes propriedades do centro-oeste, onde o uso intensivo de tecnologia é uma prática rotineira. Conseqüentemente, por falta de competitividade, a produção de soja das pequenas e médias propriedades da Região Sul tenderá a ser substituída por atividades agrícolas mais rentáveis (mais intensivas no uso de mão-de-obra), como produção de leite, criação de suínos e de aves, cultivo de frutas e de hortaliças, ecoturismo, entre outras;
o Brasil deverá ser o grande provedor do esperado aumento da demanda mundial de soja, por possuir, apenas no Ecossistema do Cerrado, mais de 50 milhões de hectares de terras ainda virgens e aptas para a produção de grãos. A área cultivada com soja nos Estados Unidos, Argentina, China e Índia, que juntos com o Brasil produzem mais de 90% da soja mundial, só crescerá em detrimento de outros cultivos (milho, girassol, sorgo e pastagens, principalmente). Sua fronteira agrícola, diferente do Brasil, está quase ou totalmente esgotada.
Engº Agrº Amélio Dall´Agnol - Pesquisador Embrapa Soja, amelio@cnpso.embrapa.br
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